A web é a serpente que come seu próprio rabo

A história é um pesadelo do qual estou tentando acordar.
— James Joyce

Uma das maiores dificuldades que tenho com esta newsletter é não virar “a reclamação da semana”, muito menos ser a publicação “mas que droga, não dá para ganhar dinheiro com internet”. Até porque seria um título longo demais. Nós temos na Ampère uma piada recorrente de que eu sou o pessimista, e o Gui é o otimista. No longo prazo um de nós sempre está certo. Outro dia ele usou a palavra desolado para descrever seus sentimentos sobre um projeto que não deu certo e eu brinquei. “Essa é a principal vantagem de ser pessimista. A surpresa é sempre pro bem 😜” Eu também brinco que não é que eu seja pessimista, é só que não espero nada da espécie humana.

Sim, no geral sou pessimista e não tenho orgulho disso. Tanto que o Boa Noite Internet só conseguiu existir a partir do momento em que combinei comigo mesmo que cada programa não podia se limitar a ser uma lista de coisas erradas. (Outro salto importante foi quando combinei, este ano, que tudo bem quebrar essa regra de vez em quando.)

Agora vejo que meu pessimismo não é uma atitude de desesperança. Não é esperar o pior e que não há nada que possamos fazer. A parte boa do pessimismo é estar preparado para o que pode dar errado. A ruim é evitar viver a empolgação do “vem aí” provavelmente por medo da decepção — esta é a parte que preciso trabalhar.

Tudo isso para dizer o seguinte: quando escrevo aqui apontando tudo o que está errado com a internet, o que estou fazendo (para mim mesmo) é olhar os obstáculos do caminho. É como se eu estivesse subindo uma montanha e vendo os pedregulhos e precipícios. Eu não viro as costas e desisto, porque eu gosto disso aqui. Não gasto tempo nem neurônio para explicar o que há de errado com o futebol ou a gastronomia.

Eu preferia que esta fosse uma grande estrada pavimentada e com lojinhas de conveniência? Com certeza. Talvez esta seja, aliás, minha grande diferença para outros empreendedores: eu não subo para vencer a montanha, eu subo porque gosto da vista, da natureza, do ar fresco.

A cobra comendo o próprio rabo

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