Todo mundo vendendo, ninguém comprando

Trabalhe para publicar, não para terminar.
— Jack Conte

Estou aqui no último dia de Rio2C, que segundo muita gente diz eu brinco que é o SxSW que merecemos. O que é só zoeira, porque antes de mais nada o Rio2C é um evento sim sobre e para o mercado de audiovisual, a galerinha que faz vídeo. Eu deveria emendar “e áudio” na frase anterior, mas o destaque para o áudio esse ano foi menor do que ano passado — e sempre em salas pequenas, mas que acabam lotadas, mostrando que o público segue interessado e “os cabeças” (não só do evento, mas do mercado) enxergam o áudio como um formato menor.

Nosso primeiro dia foi quarta-feira e agora eu dou risada em ver como minha cabeça funciona e joga contra mim. Quando eu cheguei no evento, vi todo aquele mundaréu de gente e, acima de tudo, ouvi o zumzumzum de milhares de conversas acontecendo ao mesmo tempo eu dei uma surtada — por ser toda de concreto liso a acústica da Cidade das Artes não é das melhores. Nada grave, claro, mas eu fiquei andando de um lado pro outro não sabendo onde eu devia comer, se devia encarar fila ou se eu ia conseguir esperar. Foi assim até o fim do dia, reencontrando pessoas, vencendo a timidez pra ir puxar papo e trocando ideias. A ponto de que na quinta-feira chegamos no happy hour da Amazon, meu nome não estava na lista e eu pensei “OK, eu vou ali para aquele canto chorar”. Não de tristeza, de exaustão mesmo, de perder o controle sobre o corpo, não-tão-figurativamente derretido no calor do Rio de Janeiro.

Ao fim do primeiro dia ouvi de muita gente que o clima era de pessimismo. De que se estava ali para vender alguma coisa e mais nada. Com 5 ou 10 minutos de conversa todo mundo (inclusive eu) entrava no modo “pois é, me chama pra uns projetos aí!”. Ou como disse o Gui, o meme do Homem-Aranha apontando para seus clones: projeto? Eu tenho projeto! Quando o mercado entra neste modo morrem as parcerias, porque na hora que a barriga ronca, o cinto aperta, o negócio é ficar com o máximo de bolso possível. Um evento de celebração vira uma tentativa de cavar alguma oportunidade. Todo mundo querendo vender e ninguém querendo comprar.

Até porque quem compra de verdade, as famosas plataformas só iam lá, faziam as palestras se autopromovendo e iam embora ou se trancavam em salas privativas. O resto do mercado fica esperando alguma regulamentação governamental para plataformas de streaming, do mesmo tipo que já foi feito nas TVs aberta e por assinatura. Além de esperar EUA e Europa arrumarem suas economias, que agora precisam aprender essa coisa louca que é a inflação.

Só que ver esse cenário me deu um… orgulho. Que é uma coisa feia, é eu ficar feliz com a desgraça dos outros, lá se vai toda minha criação católica. Mas não é isso. Primeiro por conta do que eu sempre falo do “eu não tô maluco sozinho”. Foi ver que tá todo mundo ralando pra fechar projetos… e a Ampère tá pelo menos fazendo aí algumas coisinhas e recebendo pedido de proposta — o que já é muito melhor do que o segundo semestre do ano passado. Estamos nós lá com nosso proverbial olho em terra de cego.

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