Como separar o hype do trigo na Inteligência Artificial

Quem escreve precisa ter a precisão dos poetas e a imaginação dos cientistas.
— Vladimir Nabokov

Ser moderado, cauteloso, é um business arriscado. Eu sempre lembro da Marina Silva na política. Ela é a candidata do “vamos nos entender” e do “cada um tem seu ponto de vista”, nem cá, nem lá. Abordagem que, quando eu era criança, aprendi ser a ideal. Todo mundo se entende, vendo que não dá pra agradar todo mundo. A Marina Silva? Ela nunca vai muito longe. O povo quer fazer o sangue ferver. Quer uma grande bandeira para ir atrás. Investir usa identidade nisso. Ela nunca vai ser presidente e em 2022 entendeu isso.

É nisso que eu penso quando vejo todos os hypes tecnológicos. Ali nos anos 1990 umas poucas pessoas viam que a Internet seria O Futuro™. Eu era uma delas. A maioria das pessoas — informadas por experiências anteriores — não botava fé. É só modinha. Está tudo funcionando, pra que mudar? A gente insistia. Era a minha identidade. O rapazinho da internet. Demorou ali 1 ou 2 décadas e a internet chegou para ficar. Mudou o mundo. E desde então, virou uma boa abordagem alardear novas grandes mudanças.

Aconteceu de novo com o iPhone em 2007. Ninguém entendia por que um telefone sem teclado, uma grande tela em cores, ia fazer tanta diferença assim. Meu Nokia N95 faz tudo isso! O impacto foi tão grande que agora existe a expressão “o momento iPhone” de uma tecnologia. Não por acaso, toda a visão de blockchain só ganhou força quando passaram a chamar de web3. “Lembra a mudança que rolou com a web e você perdeu o bonde? Vai acontecer de novo.”

Então, em 12 meses, tivemos a tal “mudança de paradigma” na Inteligência Artificial. O Teste de Turing, onde pessoas tentam adivinhar se aquela coisa aqui conversando conosco é humana ou não, foi tão ultrapassado, mas tão ultrapassado que já tem gente dizendo que ele nem valia tanto assim. E o hype, ele veio. Veio forte.

Eu preciso deixar claro que acredito sinceramente que a inteligência artificial chegou em um ponto de virada em que pode ser a maior revolução da história da humanidade desde a internet. Ou desde a prensa de Gutemberg. Ou talvez desde sempre. Pode nos levar à singularidade, onde humanos e máquinas fundem suas mentes e viram uma terceira coisa. É grande assim. Ao mesmo tempo, todo dia vejo alguma abordagem que me leva ao “calma, galerinha”. Metade do meu feed é gente mostrando todas as ferramentas incríveis baseadas em IA: crie imagens, textos, músicas, resumos, power points, planos de negócio! Tudo com IA! Me dê mais IA!!!

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