O pensamento é útil quando estimula a ação e é obstáculo quando a substitui.
— Bill Reader
Quando era mais nova, minha filha Marina fazia uma coisa que a gente ri até hoje. Sempre que ela falava alguma coisa que não existia, ou falava uma palavra errado, ela respondia “É que na Marinalândia é assim.”. Ela é o que a gente gosta de chamar de uma figurinha e você deve conhecer alguma criança assim. Eloquente, do tipo que logo vira o centro das atenções. Uma psicóloga chegou a dizer que conversando com a Marina, às vezes esquecia que estava falando com uma criança — o que na hora me deu orgulho, mas depois me deixou preocupado.
Eu lembrei da Marinalândia lendo as histórias da primeira semana desde a liberação do “Novo Bing”, interligado ao ChatGPT. Mas que não é exatamente o ChatGPT, é a mesma tecnologia com algumas modificações, como, por exemplo, ter alguns dados mais recentes do que 2021. De como ele, assim como o ChatGPT, inventa coisas que não existem, mas ao contrário do seu antecessor vai lá e banca a resposta.
Ainda não recebi meu acesso — a Microsoft sugere que, para furar fila, eu passe a usar o Bing para buscas (até aí… tudo bem? tudo pela arte!), o app do Bing no celular e o Edge como navegador (que se você lê a newsletter desde lá o início sabe que era meu navegador padrão até eu voltar pro Firefox, que hoje eu não abro mão). Sendo assim só me resta ficar acompanhando as reações das pessoas. E elas estão pirando com as reações e delírios do BingGPT. Principalmente com a personalidade que ele parece ter, não muito diferente da Marina.
Como quando um usuário fez uma busca simples, nada filosófica: “Horários das sessões de Avatar 2 no cinema” — exatamente o tipo de uso de um site de buscas. Mas não quando o site é inteligente! Não demorou muito para que eles estivessem discutindo se 12 de fevereiro de 2023 era depois de 16 de dezembro de 2022. O tipo de discussão que eu teria com uma criança da idade da Marina na época em que ela morava na Marinalândia.
Já outra pessoa foi comentar sobre essa coisa de o BingGPT não lembrar o que foi dito entre uma sessão de chat e outra (provavelmente um mecanismo anti-radicalização da AI, para evitar uma “nova TAI”). A máquina surtou.
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