Leituras de carnaval: a grande traição (do trabalho)

A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval. A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho, pra fazer a fantasia de rei, ou de pirata, ou jardineira… E tudo se acabar na quarta-feira.
— Tom Jobim

Esta semana vivi plenamente a maravilha que é ser brasileiro. Não é que a gente para de trabalhar na semana do carnaval. Na semana anterior, esta que acaba hoje, ninguém já não quer mais nada com responsabilidade. Adoro, sem sarcasmo. Vem aí o carnaval da ansiedade climática, do pós-social, do pós-emprego e, se tudo der certo, do pós-Bolsonaro-preso.

Até eu, que não sou de folia, estou procurando um bloquinho pra sair qualquer dia.

A grande traição do trabalho

“Se a segurança de um emprego em big techs não for mais o objetivo aspiracional, o que a substituirá?”

Meu pai trabalhou a vida toda em uma “big tech”. É só que na época as grandes empresas de tecnologia, que mudavam o país com seus equipamentos de ponta, eram feitas pelo Estado. Com plano carreira, fundo de pensão, clube dos funcionários. De lá pra cá todo mundo comprou o papo individualista de que isso só gerava desperdício e gente encostada. Mas tudo bem!, disseram. Era só ir trabalhar em tecnologia. Learn to code! era o mantra do futuro do trabalho e da segurança financeira. Nem isso mais é verdade e os trabalhadores se sentem traídos — com os empregadores ainda cobrando lealdade de suas equipes. Ainda somos uma grande família?

“Meus pais me disseram: ‘Não troque de empresa, cresça em uma empresa, seja leal a uma empresa e eles serão leais a você’. Isso pode ter sido verdade na época deles, mas definitivamente não é hoje. não mais.” Enquanto os empregadores reclamam do quiet quitting, os trabalhadores falam da Grande Traição.

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