Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.
— Jiddu Krishnamurti

🧑‍❤️‍👨 Dentre os vários problemas do Vale do Silício está “acreditar na boa vontade das pessoas”. (Digo isto para dar o benefício da dúvida e não dizer que é má-fé mesmo). Semanas atrás a OpenAI lançou a “GPT Store”, uma interface no ChatGPT para facilitar a descoberta e uso de GPTs criados por usuários — como o meu emojizeitor que uso aqui na newsletter, ou o que edita textos para deixar as frases com gênero neutro sem precisar usar “todes”. A promessa é de que em algum ponto deste ano os criadores destas versões customizadas recebam algum tipo de compensação por este uso — parte que ainda não foi esclarecida, exceto de que vai começar com criadores dos EUA.

Há muitos GPTs bons por lá. Neste momento, por exemplo, estou usando um para a construção de pitch decks para levar a potenciais investidores da Ampère. Há GPTs que ajudam no ofício da escrita e até um joguinho de RPG bem interessante, do tipo Enrola e Desenrola turbinado por IA.

Só que como sabemos, cerumano faz cerumanice. Por isso é possível também encontrar GPTs que violam as regras da OpenAI mas seguem lá, como os de “namorada virtual”. Não vou nem entrar no juízo de valor se este tipo de uso do ChatGPT é bom ou não. Cada um com seu cada um. Mas se este tipo de bot pode facilmente ser encontrado por lá, dá pra supor que outras coisas piores também devem estar na store.

A resposta da OpenAI foi a que toda plataforma de tecnologia tem dado nos últimos 20 anos: eles possuem sistemas automáticos que falharam neste caso, mas contam com a ajuda da comunidade para denunciar casos que considerem suspeitos. Quando as coisas dão errado, a reação de Facebook, Google e Twitter era apontar para as regras de uso e dizer “Tá, mas a gente diz aqui que não pode. Não é culpa nossa se as pessoas ignoram isso!!!”

Outro dia tivemos a história onde Pedro Bial hablou mesmo acusando a Meta de conivência ao não tirar do ar vídeos de propaganda que usam deep fakes da sua imagem. No (gigante) grupo de zap de ex-funcionários da Meta do qual faço parte, teve gente ensaiando uma defesa. “Poxa, mas é inviável verificar cada post que sobe manualmente.” Ou seja: se o modelo de negócio não se sustenta caso a sociedade precise ser protegida… a sociedade que sofra.