A luta contra as não-notícias na internet

Escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos se escrevêssemos – só o sabemos depois – antes, é a interrogação mais perigosa que nos podemos fazer.
— Marguerite Duras

Estou em uma batalha. O prêmio é a minha atenção. (sobe música dramática!)

Você pode não acreditar, mas eu nunca fui de ficar horas navegando em rede social, especialmente agora com o “fim” do Twitter. Mas não é porque eu sou um ser iluminado e com meus instintos sob controle. É só porque meu “scroll infinito” costuma ser em feeds de notícias, de links. Meu lugar preferido era o Google Discover (tive que buscar aqui qual o nome disso, já que o Google não é muito bom de inventar, divulgar e manter o nome das suas coisas). No Android é aquela lista que aparece mais à esquerda da tela inicial do telefone. No iOS ele é acessado dentro do app do Google.

Sou androider e o uso é tão fácil que chegava a ser um reflexo. Naquele momento de microtédio, de “o que é que eu vou fazer agora?” o dedão xunf! arrastava a tela e lá estava eu em um feed de notícias feitas perfeitamente de acordo com o meu gosto, a partir de tudo o que o Google sabe sobre mim. Não era minha única fonte de informação, mas era a que ocupava mais horas do meu uso de telas, justamente pelo reflexo automático.

Com o passar do tempo este hábito me gerou duas sensações. A primeira foi de que cada clique meu, em qualquer app, me gerava o pensamento “qual impacto ruim isto vai ter no meu feed?”. Eu tinha meus motivos: uma vez estava lendo o livro que o Maron me deu de presente de Natal, quando o autor começa a contar sobre a invenção do pigmento “azul da Prússia”.

Foi por engano; o que [um fabricante de tintas suíço chamado Johann Jacob Diesbach] realmente queria era reproduzir o carmim obtido ao triturar as fêmeas de milhões de cochonilhas, pequenos insetos que parasitam o cacto nopal, no México, na América Central e na América do Sul, bichos tão frágeis que requerem cuidados ainda maiores do que os bichos-da-seda, já que seus corpos branquinhos e peludos podem ser facilmente danificados pelo vento, pela chuva e pelas geadas, ou devorados por ratos, aves e lagartas. Seu sangue escarlate foi — junto com a prata e o ouro — um dos maiores tesouros que os conquistadores espanhóis roubaram dos povos americanos.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes do Boa Noite Internet. Para continuar lendo apóie o nosso trabalho, por menos que uma coquinha zero por semana.

Assine Agora

Já é assinante? Entre com seu usuário.