Você gosta mesmo do Brasil?

Todos correram apressadamente para suas correntes, acreditando que estavam garantindo sua liberdade.
— Jean-Jacques Rousseau

Mais ou menos um mês atrás minha filha mais velha fez 17 anos. A parte que eu achei mais curiosa é como literalmente de um dia pro outro eu virei a chave de “ah, ela só tem 16 anos, estou pegando muito pesado com ela” pra esbravejar pela casa “não acredito, 17 anos na cara e ainda fazendo esse tipo de coisa!”.

Ser pai é uma doideira.

Sábado passado nós dois fomos comer em uma hamburgueira roots aqui perto, enquanto a mãe e a irmã estavam em uma festinha de aniversário. Ela puxou o papo de que uma amiga tinha acabado o ensino médio e decidido ir morar um ano em Belém antes de começar a faculdade. E que outras amigas já estavam falando em se mudar para uma cidade mais pacata do que São Paulo. Eu lembro quando tinha essa idade e começou a me bater a “responsabilidade da maioridade”. Foi quando, por exemplo, decidi que não ia seguir a carreira de comunicação — eu tinha me formado no curso técnico de radialismo, mas nem tentei arrumar emprego na área. Prestei vestibular para informática, porque era a profissão do futuro. Coisa séria. Emprego pra vida toda na IBM. Deu no que deu.

Na conversa ficamos pesando os prós e contras de morar em São Paulo, cidade com a qual eu tenho uma relação complicada. Uma coisa bem São Paulo I love you but you’re bringing me down. Porque é verdade que não existe amor em Essepê. Mas tampouco existe em tantos outros lugares. São Paulo é uma cidade cruel, mas é uma crueldade que eu consigo entender, gerenciar melhor do que as outras. Isso não quer dizer que me vejo aqui para sempre, até porque “lar” para mim são apenas os metros quadrados onde eu e a Anna moramos. Nós e, por enquanto, as filhas, que um dia partirão, vai doer pra caramba mas tem que ser assim.

Contei pra ela que depois de viver fora do Brasil por três anos, eu meio que virei a referência para os amigos de “morar na gringa”. Por muito tempo o pessoal vinha me pedir conselho. Minha resposta sempre foi bem pragmática. “Vai, nem que seja pra você voltar e aprender a valorizar mais o Brasil.” Porque se tem uma coisa que atormenta o jovem é essa sensação de que cada passo na vida é definitivo. Não é. Nada é fácil nem barato, mas se você for morar em Belém ou NYC e não gostar? Volta. Tá tudo bem. Se você escolher a faculdade de biblioteconomia e não for aquilo que pensou? Muda. Tá tudo bem. Aqui em casa não somos milionários, mas somos privilegiados o suficiente pra que eu possa dizer isso. Vai lá, se não der certo volta que a gente está aqui pra ser a famosa rede de apoio.

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