Paranoia de produtividade

O machado esquece; a árvore lembra.
— Provérbio Zimbabuano

O momento “ah, não acredito” da semana foi a declaração (vazada) de que o CEO do Zoom está forçando a barra para que seus funcionários voltem a trabalhar presencialmente. Sim, a ferramenta de reunião online tão usada no mundo que está virando sinônimo de categoria, algo só alcançado pela Xerox, Gillette, Band-Aid e Caldo Knorr. Ele acha que esse negócio de reunião online não funciona não. Que o bom mesmo é estar cara-a-cara.

Óbvio que virou piada e está rodando o mundo. Vou te falar… A galera força a amizade. Se tem uma empresa que devia estar investindo horrores em pesquisa e desenvolvimento não só de ferramentas tecnológicas mas de metodologia para aumentar a produtividade do trabalho remoto, é a Zoom. O problema é que foi-se o tempo onde sujeito liderando a empresa pensava no futuro distante da companhia. Tem tanto tempo que nessa época mal usávamos a expressão “CEO”. Era Presidente mesmo, no máximo General Manager. CEO de empresa hoje em dia vive de planilha a planilha, porque é para isso que foi colocado lá — quanto maior a empresa for, pior é. Não tem essa de “vamos bancar o trabalho remoto até nossas pesquisas estarem avançadas, para dar exemplo ao mercado”. Tem que fechar o número.

O CEO da Zoom, Eric Yuan, apresenta dois grandes motivos para se voltar ao escritório: velocidade de inovação (porque hoje em dia tudo tem que ser rápido) e conexão pessoal, para fortalecer a confiança entre equipes. Ele e todo mundo que defende a volta à firma usa a queda na produtividade como justificativa.

Se no episódio do domingo passado eu falei sobre “esta é a pergunta errada”, quando o assunto é “trabalho remoto versus presencial” eu vejo algumas empresas (ou pelo menos o que é relatado delas nos veículos de imprensa) fazendo a pergunta errada. Porque não é entender o que é melhor: trabalhar lá ou cá. É voltar ao escritório. Mais especificamente, voltar ao escritório no contexto atual da economia e política mundial. Em 2019 talvez todos nós concordássemos que o trabalho presencial é melhor, mais produtivo. A pergunta não é essa. A pergunta é “você quer voltar?”.

Já falei aqui e no podcast que os anos de lockdown deram aos trabalhadores de escritório a oportunidade de provar o que então era impossível: parar e refletir. Também tivemos a chance de sentir o gostinho de estar mais perto da família, de não gastar (por baixo) 2 horas do dia, todo dia, só em translado, além de saber como é não ser interrompido toda hora, nem ficar de papinho furado, fazendo social. Quem trabalha passou a ter mais controle sobre a vida. Mas estou falando o que você já sabe.

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