Nick Cave está errado

Em uma terra onde todo mundo grita, todo mundo é também ligeiramente surdo.
Brandon Sanderson

Nick Cave tem uma newsletter que vale entrar na sua lista. Nela ele cobre vários assuntos, incluindo IA, por vezes. Não é de se espantar que ele é contra IA usada na arte. Na mais recente edição, ele responde a um leitor que diz conhecer um compositor de Los Angeles que está amando o ChatGPT por permitir que ele componha “mais rápido e mais fácil”. A resposta do Nick é interessante porque toca em um tema complicado para mim: o “artista sofrido”.

“Na história da criação, Deus cria o mundo e tudo nele em seis dias. No sétimo dia, Ele descansa. O dia de descanso é significativo porque sugere que a criação exigiu um certo esforço da parte de Deus, que alguma forma de luta artística ocorreu. Esta luta é o impulso validador que dá ao mundo de Deus seu significado intrínseco. O mundo se torna mais do que apenas um objeto cheio de outros objetos; em vez disso, ele é imbuído do espírito vital, o pneuma, de seu criador.

O ChatGPT rejeita qualquer noção de luta criativa, de que nossos esforços animam e alimentam nossas vidas, dando-lhes profundidade e significado. Ele rejeita que há um espírito humano coletivo, essencial e inconsciente que sustenta nossa existência, conectando-nos a todos através de nosso esforço mútuo.

ChatGPT está acelerando a mercantilização do espírito humano ao mecanizar a imaginação. Torna nossa participação no ato da criação sem valor e desnecessária. Aquele “compositor” de quem você estava falando, Leon, que está usando ChatGPT para escrever “suas” letras porque é “mais rápido e fácil”, está participando dessa erosão da alma do mundo e do espírito da humanidade em si e, para dizer educadamente, deve parar imediatamente se quiser continuar se chamando de compositor.”

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